quarta-feira, 9 de maio de 2012

A Fisiologia do Stress

Relationship between stress and cancer - National Institute of Cancer (USA)



Ser, estar, permanecer, seja lá qual verbo se encaixa ao seu individual, muitas vezes o predicativo é o “stress”. Não importa se é estressado, está estressado ou permanece estressado, sempre o stress e suas sequelas acabam por aparecer no nosso cotidiano.
Tornou-se quase um axioma a permanência do stress no dia-a-dia. No trabalho, na escola, na faculdade ou muitas vezes até na própria família, problemas vão e vêm, e lidar com os problemas nunca é agradável, pelo contrário, é estressante.

Mas o que é o stress? Ele nos faz mal?

O stress pode ser dividido em duas vertentes: a psicológica e a fisiológica. Uma está intrínseca na outra, desencadeando uma série de reações bioquímicas que são mediadas por hormônios de natureza esteróide, como os corticóides por exemplo.
O cortisol é o principal agente causador do stress, todavia, não é um vilão ao organismo. Este hormônio corticóide é produzido pela zona fasciculata do córtex (região mais superficial) das glândula adrenais, situadas bem acima dos rins. Seu moderador por feedback negativo é um hormônio adenoipofisiário denominado hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), que por sua vez é moderado por um outro hormônio, produzido no hipotálamo, denomidado hormônio liberador de corticotrofina (CRH).

A priori, o cortisol tem efeito benéfico ao organismo, uma vez sendo responsável por um efeito acentuado catabólico (ou mesmo anti-anabólico). Assim sendo, em uma condição de stress, o cortisol estimula a respiração celular, assim como a quebra de proteínas, transformando-as analogamente em carboidratos, macronutrientes responsáveis pela obtenção de energia nos tecidos. Concomitantemente, o sistema nervoso autônomo simpático (SNAS), através de mediadores hormonais como a norepinefrina e epinefrina, regula a fisiologia do corpo para condições de stress (interpretado pelo cérebro como uma condição de esforço físico), aumentando a frequência cardíaca, consequentemente a pressão sanguínea (taquicardia),  os estímulos involuntários do diafragma, aumentando a frequência respiratória, a dilatação das pupilas, oxigenação dos músculos e captação de oxigênio pelas mioglobinas, dentre outros processos fisiológicos.
Assim temos uma correlação entre as duas vertentes do stress: o problema em questão sem solução, que psicosomaticamente, pelo stress, induz a está série de processos bioquímicos dito anteriormente. Consequência: ficamos irritados. Mas por quê? Nosso corpo está se preparando para um esforço físico altamente energético, inibindo todas as outras funções de anabolismo do corpo (como a síntese proteica),  e nós não estamos submetidos a este esforço físico, pelo contrário, estamos apenas com um problema em nossa frente, cuja solução muitas vezes dependerá de algumas horas pensando ou escrevendo, implantado em uma cadeira.

Pode-se chegar à conclusão facilmente de que o cortisol então é benéfico ao corpo, já que o prepara para condições em que o esforço físico será necessário, e sem ele não haveria catabolismo de substâncias energéticas quando estas estão em carência.
Embora o efeito seja realmente benéfico, o stress crônico, ou seja, aquele que as namoradas sempre têm (aquele que não vai embora nunca sabe?), pode causar muitos problemas, dentre eles a hipoglicemia, a metilação das moléculas de DNA, a imunosupressão (pois o cortisol inibe os processos inflamatórios e a resposta imunológica), a fadiga crônica, dentre outros problemas.

Em resumo, o stress crônico ou longevo pode acarretar à imunodeficiência, deixando o indivíduo mais sucetível às incursões de antígenos patogênicos (o estressado crônico quase sempre fica doente), e em casos mais graves, os estudos da epigenética mostraram que a metilação das moléculas de DNA pelo excesso de cortisol (não somente) pode gerar câncer, assim como o corpo, uma vez imunodeprimido, está sujeito às infecções virais que podem vir ocasionar o câncer, como o Sarcoma de Kaposi. Portanto, o psicológico é muito importante, e atividades de lazer são extrememente recomendadas, até aos mais radicais, que só pensam no trabalho.
Ausência de cortisol é ruim, o excesso também. Uma das doenças que afetam a produção de cortisol é a Doença de Addison, na qual o enfermo, em casos mais amenos da condição, sofre depressão, nessecidade de ingerir sal, e sofre uma diminuição no limiar de convulsões, ou seja, podem sofrer convulsões. Em casos graves, o estado vegetativo, coma ou até o óbito são possíveis. As causas dessa doença muitas vezes estão vinculadas aos tumores metastizantes, sendo eles o adrenocarcinoma nas glândulas adrenais, desestabilizando diretamente a produção dos hormônios oriundos desta glândula, ou mesmo glioma nas células hipofisiárias, desestabilizando ou a recepção de CRH ou a sintetização de ACTH, consequentemente gerando problemas na produção de hormônios adrenais.

Então não saia por aí querendo fazer uma adrenalectomia para ser uma pessoa mais feliz e menos estressada. Basta apenas repensar alguns ideais árcades, como o Carpe diem e o Aurea mediocritas, e viver a vida, encher o saco dos outros, principalmente das namoradas: em homenagem à minha, Srta. Mariana Hernandez Fioravante, vulgo Srta. Cortisol.


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