Motivo? Não sei, mas hoje eu li uma coluna de um periódico científico que me intrigou muito, mais do que o comum. A coluna tratava da AIDS e afirmava - com um preventivo tom de dúvida - que já houve casos de cura total da infecção, e que novos fármacos já foram testados e podem vir ao mercado para o tratamento e prevenção da doença.
Então. Os mais comprometidos cientistas, futuros cientistas ou seja lá o que ou quem for, que leem com frequência a literatura científica, já ouviram falar do caso "Timothy Brown".
Brown foi - não concordo com o tempo verbal - soropositivo, e seus médicos, assim como Françoise Barré-Sinoussi (Nobel de Medicina e Fisiologia de 2008) afirmam que erradicaram a doença com transplante de células-tronco retiradas da medula óssea de indivíduos resistentes ao vírus HIV.
A terapêutica, tanto na teoria quanto na prática, é válida, afinal, o uso de células-tronco de um indivíduo resistente ao vírus dará origem a células-mãe linfoides que se diferenciarão em Linfócitos T (do grupo CD4+ Helpers) resistentes à infecção, proporcionando imunidade ao infectado, que estará concomitantemente sendo administrado com o coquetel anti-HIV.
Acontece que - justificando a minha não concordância com o tempo verbal - outros soropositivos já foram sim tratados com o mesmo processo de transplante de células-tronco, e não obtiveram resultados sequer semelhantes, e isso acaba gerando dúvidas, as quais nos permitem incluir Brown em duas categorias: ou como sendo um falso positivo, e a popularidade que a mídia lhe proporcionou o ajudou a dobrar as sequelas dos preconceitos da população para com sua "doença", (que ele por muito acreditou ter e provavelmente alertou seus parceiros sexuais) possibilitando a ele uma vida relativamente normal; ou como sendo um caso à parte.
Assim, vocês podem tirar suas conclusões, e eu desejo muito vê-las nos comentários, mas antes, deem uma olhada no site que ele fez, e no seu slogan: http://timothyrbrown.com/. Na minha singela opinião, acredito que a terapêutica utilizada pode ser eficiente, só que com probabilidades baixas, dependendo de fatores genéticos. Mas, na possível possibilidade de cura, ele (Brown) se vangloriou com o feito, e desfrutou disso de uma forma que o aliviasse da pressão social que o soropositivo hoje sofre, em todo o mundo.
Timothy Brown
Foi bonito, de certa forma, a maneira como ele utilizou o acontecido, fomentando as pesquisas de cura para doenças incuráveis hoje em dia, pedindo doações e tudo mais. Mas depois de ver as fotos que ele tirou de si mesmo, com pose e tudo mais, me fez pensar mais um pouco no egocentrismo escondido por trás de suas palavras.
Bom. Mas, acima de tudo, acredito no avanço dos estudos de alguns fármacos que podem ser adicionados no coquetel anti-HIV.
Um destes fármacos é o vorinostate, utilizados em humanos para o tratamento de câncer - hilário como as drogas utilizadas no tratamento de cânceres acabam por ser utilizadas na terapêutica de outras doenças, vide ESTE post sobre o bexaroteno e o Alzheimer - e atua de forma bem peculiar.
O vírus HIV é um retrovírus que utiliza o metabolismo das células de defesa (denominadas Linfócitos T CD4 Helpers) como geradores de outros vírus, por um ciclo reprodutivo furtivo denominado ciclo lisogênico. Este ciclo se caracteriza da seguinte maneira: o vírus ataca as células T, injeta o seu material genético (RNA) e através de uma enzima específica, denominada transcriptase reversa, produz, por meio do metabolismo da célula hospedeira, uma molécula de DNA que fornecerá as informações para a sintetização de novos vírus. Este DNA se unirá ao DNA celular, e depois de um tempo, a célula T hospedeira sofrerá lise, liberando assim vários novos vírus para a corrente sanguínea, prontos para atacarem novas células T.
Esses novos vírus nem sempre parasitarão outras células T. Muitos deles se mantêm escondidos nestas células de defesa, o que torna difícil a detecção da infecção, dando origem aos usuais e desoladores casos de "falso negativo", que comprometem a saúde dos soropositivos.
Mas, este novo fármaco, o vorinostate, é capaz de "desentocar" esses vírus escondidos, que serão eliminados pelo coquetel anti-HIV.
Assim, teremos uma forma eficiente de trazer, de forma definitiva, a palavra "cura" para os quadros de infecção por HIV.
E tem mais. Parceiros sexuais de soropositivos agora têm mais uma arma contra a infecção, podendo preveni-la com o uso de um fármaco já conhecido pelos portadores de HIV, o Truvada (emtricitabina + tenofovir). Este medicamento foi laureado com aprovação da FDA (agência que controla a comercialização de alimentos e remédio nos EUA) para ser um preventivo da infecção, se usado diariamente, tendo êxito em 75% dos casos de possível infecção por HIV. Os outros 25% devem ser cobertos pelo uso de outros métodos, como o uso da camisinha.
Representação artística do vírus HIV
"A AIDS nos faz iguais"
Um comentário:
Bem legal Gustavo
Esses outro post do Aopedavida tambem falam do assunto
http://aopedavida.blogspot.com.br/2011/05/aids.html
http://aopedavida.blogspot.com.br/2011/09/hiv.html
Parabens de novo
Abraço
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