Primeiramente, quero agradecer pelo retorno do nosso digníssimo professor Vinícius. Sua proeza de sumir repentinamente foi tamanha que devo equipará-la com a capacidade de se esconder do Bóson de Higgs. Mas ele está de volta! Obrigado Professor!
E bem vindo aos novos leitores do Ao Pé da Vida.
Sigamos.
Há um bom tempo atrás, saiu na literatura da comunidade científica um artigo sobre a descoberta de uma bactéria capaz de quebrar as regras do que conhecemos hoje como vida. Basicamente, em um ser vivo, os integrantes da tabela periódica que são indubitavelmente essenciais são o carbono, nitrogênio, oxigênio, enxofre, fósforo e hidrogênio.
Pois bem, tal bactéria, a GFAJ-1, tinha, segundo os pesquisadores, a capacidade de substituir em suas estruturas o elemento fósforo ("P" - família VA) por outro eletricamente semelhante, o Arsênio, da mesma família. Entretanto, o arsênio, na concentração encontrada no lago Mono (habitat das tais bactérias, na Califórnia, EUA) é letal para a vida (letal para os humanos? Vide "Influência do Arsênio em Humanos", no fim do post), e como esse ser tão primitivo teria a capacidade de substituir o fósforo, um elemento extremamente importante que está presente em todo material genético, nos ATPs, nas membranas celulares, por um elemento altamente tóxico?
Para a comunidade científica, isso foi um espanto. Assim como a polêmica dos neutrinos abalou uma das principais (senão a principal) teorias da física moderna, essa descoberta, se devidamente provada, derrubaria os pilares que sustentam o nosso conhecimento sobre a vida, podendo até nos levar a cogitar, ceticamente falando, a possibilidade de vida fora da Terra.
Tão sucesso fez, que uma grande revista de publicações científicas, a Science, resolveu publicar os resultados dessa pesquisa, dizendo, como a autora da pesquisa alegava, que a GFAJ-1 utilizava o arsênio no desenvolvimento celular e o incorporava ao seu material genético.
Acontece que, na comunidade científica, obviamente, o empirismo e o ceticismo estão sempre à tona, fazendo com que o nosso hemisfério esquerdo do cérebro não aceite tão facilmente esses, digamos, resultados. Portanto, a autora do polêmico artigo respondeu a inúmeras cartas de críticas e questionamentos, sempre alegando o mesmo, porém, dizendo que as amostras das bactérias estavam levemente contaminadas com fósforo.
Eis então, que grandes cientistas "duvidões" começaram a trabalhar com a GFAJ-1, e os resultados foram o seguinte:
1º) A GFAJ-1 precisa sim de fósforo para o seu desenvolvimento, e na ausência deste, ela não se desenvolve e morre, portanto, não o substitui pelo arsênio. O que acontece é que ela tem a capacidade de sobreviver com pouca disponibilidade de fósforo, o que poderia ter gerado o desentendimento da autora.
2º) A GFAJ-1 também não incorpora o arsênio ao seu material genético, como a autora havia alegado.
E a prestigiosa Science publica estes resultados, refutando a pesquisa, e consequentemente sua própria divulgação anterior. Enfim, a GFAJ-1 não rompe com os dogmas da vida.
Mas surge então um novo problema. A divulgação científica. Quando é correto divulgarmos uma pesquisa? Se partimos da premissa maior da doutrina agnóstica sobre verdade absoluta, nunca divulgaremos mais ciência, pois tudo poderá ser refutado, desde que surja uma teoria mais bem desenvolvida e que abranja, sem exceções, todo o requerido.
Por isso precisamos de uma teoria do tudo, assim como Einstein desejava.
Influência do Arsênio em Humanos: para os loucos sobre os problemas do corpo humano, vou explicar como é a possível influência do arsênio no caso de uma intoxicação humana.
Primeiramente, como eu disse, o arsênio é um elemento eletricamente semelhante ao fósforo, ou seja, é trivalente. Portanto, o arsênio pode afetar várias funções metabólicas, como a fosforilação oxidativa, competindo com o fósforo durante a síntese de ATP. O arsênio também pode inibir a respiração mitocondrial em vários pontos, como na intervenção da conversão do ácido pirúvico em Acetil-CoA, reagindo com o ácido lipóico. Como se sabe, a Acetil-CoA é um composto intermédio chave (com seu cofator) de extrema importância no processo metabólico da respiração mitocondrial, dando início ao ciclo de Krebs. Algo curioso de se notar em pacientes com intoxicação por arsênio são as linhas de Mee's nas unhas, pela deposição do metal nesta região, juntamente dos cabelos e da pele.
PS: Tentei escanear uma foto das raras linhas de Mee's de um de meus livros. Sem êxito. Desculpem.
(Esta é a dita cuja)
4 comentários:
Eu sempre volto Gustavo, para a alegria geral da nação. Por falar em Bactéria e arsênio tem um outro post bem legal no Aopedavida falando sobre o mesmo tema: Evolução, Arsênio e Domínios.
E a teoria de tudo nunca virá, querendo quem quer que seja. Para a alegria dos cientistas, que poderão continuar tentando alcança-la. Sou um profeta.
Abraços
Sabia que eu tinha escrito outro post sobre arsenico. Inversão do ônus da prova
Digite ai na pesquisa lateral
Vinícius, gosto muito de seu trabalho neste blog, porém acho que você poderia usa-lo também como uma fonte para estudo e talvez até vídeo-aulas e resumos como no site história online... espero que possa ajudar assim vários vestibulandos como eu ,
um abraço.
Pode ser que isso aconteça num futuro próximo
Obrigado pelas visitas
Um abraço e ótimo estudo, que a faculdade já seja realidade no ano que vem!
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