Eis que não vos darei o desprazer de justificar minha ausência nos últimos dias, mas digamos que isto seja apenas uma elipse do resultado do que suspeitam alguns de meus entes. Mas, como prévia, vos digo: o que fiz surtiu e está surtindo resultados muitos, e repito, MUITOS satisfatórios.
E assim como a cafeína assume o lugar da adenosina nas fendas neuro-sinápticas, esse banho de endorfinas que meu cérebro tem tomado por causa desses resultados me colocou em um grau de agitação indescritível, e a única forma de canalizar essa entropia mental maluca, para mim, é escrevendo no Ao Pé da Vida.
Portanto, estou de volta. Enjoy.
Falarei hoje de música. Na verdade, tentarei casar a concepção artística da música que temos com a concepção neuro-fisiológica.
Hoje, a concepção artística da música é predominantemente difundida. A matéria "Música" não está nos currículos do ensino fundamental pelo fato de ser um instrumento de aprendizado científico, mas sim pelo fato de que ela é fundamental para o entendimento da cultura e da arte, não só nacionais, como internacionais também, ainda mais com o recente processo de globalização que o mundo tem sofrido.
Mas, ao meu ver, essa concepção artística leva o estudante do ensino fundamental a acreditar que a música é algo estritamente humano, fruto de um processo cultural que abrange toda a sociedade na qual ele está incluso. Exemplo? "Brasil, terra do samba e do futebol".
Embora essa seja a concepção mais difundida, se nós analisarmos a questão com um olhar evolutivo, chegaremos a conclusão de que a música é uma ferramenta de linguagem, ou seja, uma língua. O uso desta língua nos mostra, por exemplo, o poder da musicalidade no ciclo de vida das aves, principalmente nos períodos de acasalamento. Uma ave macho com um canto mais robusto e sofisticado (dependendo da espécie) é selecionado pelas fêmeas como o bom pool gênico para suas proles.
Aí vem o leitor com uma pós-graduação em cladística e diz: "Mas Gustavo, as aves não têm nada a ver com os humanos, sem ser pelo fato de partilharem um ancestral comum. Elas se diferenciaram dos répteis um tempo depois dos répteis terem se diferenciado da 'linha evolutiva' que daria origem a nós."
Baleias e golfinhos são mamíferos, ou seja, muito próximo de nós (pois partilhamos a mesma classe) e comunicam-se através de sons, o que atrai e intriga muitos pesquisadores das áreas das ciências biológicas, humanas e exatas.
Portanto, a música, ao longo da evolução dos hominídeos, foi perdendo espaço para o desenvolvimento da língua falada, mas não se extinguiu. Manteve-se firme ao ponto de hoje ainda conseguirmos passar para ouvintes certas sensações através da música, as quais as palavras não dariam conta de provocar.
É extremamente intrigante (e eu tenho um leve fetiche com coisas intrigantes) o fato de que nossos corpos consigam absorver vibrações do meio, de diversas frequências, e interpretá-las em nossos lóbulos temporais sensações que despertam outras sensações, como gosto, cheiro e imagem.
Quem nunca lembrou daquela viagem, ou daquele dia, ou de alguém, quando escutou uma música?
E então eu digo: atribuir uma forma de linguagem que a própria evolução das espécies desenvolveu, muito antes da própria língua falada, a aspectos estritamente culturais e antropológicos é errado. Os jovens devem aprender a música de uma forma muito mais científica do que "humanizada". Como fazer isso? Eu não sei, mas julgo ser o correto a fazer.
A música é uma ciência. Biologicamente ligada a hormônios, psicologicamente ligada a laços.
Resgatemos então algo bom da Idade Média, período que tantos julgam ter sido de estagnação científica (apesar da ciência ter evoluído na Idade Média, antes que algum radical venha comentar, essa evolução foi exacerbadamente reprimida pela Igreja). Nesta época, a música era tratada em igualdade à geometria, astronomia e aritmética, como uma forma de entender a natureza.
Eu, desde cedo, aprendi a tocar guitarra. Hoje, não deixei de tocar guitarra, e ainda expandi esse meu amor por instrumentos de corda aprendendo a tocar diversos outros instrumentos. Até cavaquinho eu tentei, mas esse não deu, minha mão é muito grande (apesar que tem uns caras que com 380kg conseguem tocar muito bem, então acho que isso não é uma desculpa).
Então, como bônus, estão aqui três vídeos, de três músicas que eu aprecio demais.
I) Música: Breaking All Illusions
Banda: Dream Theater
Álbum: Dramatic Turn of Events, 2012Motivo: complexidade do ritmo, polirritmia, quebra de ritmo, genialidade da composição e extremo domínio de cada instrumento por parte de cada integrante do conjunto. PS: minha banda preferida.
II) Música: Struggle for Pleasure
Autor: Wim Mertens
Motivo: Nunca aprendi a tocar piano, mas ano que vem eu começo. Eu adoro músicas clássicas, e este minimalista conseguiu passar para mim uma sensação de como a vida é: começa calma e sem preocupações; assume uma ritmo acelerado, nos trazendo escolhas e exigindo maturidade; acaba de repente. PS: Não dá pra morrer sem ouvi-la.
III) Música: Aces High
Banda: Iron Maiden
Motivo: Uma música baseada na força aérea britânica durante a Segunda Guerra Mundial. A música conta com um refrão que explica genial e objetivamente a vida de um piloto durante a guerra: "Viver para Voar, Voar para viver". PS: arrepiante.
3 comentários:
Ae Gustavo
Muito legal, gostei de todo o conteudo
E que essas boas novidades sejam as que eu estou pensando. Tomara. To torcendo fortemente.
Abraços
Concordo que não deveríamos atribuir a música a aspectos estritamente culturais e antropológicos, mas acredito que não devamos também, tombar para o outro lado.
Acho que ensinar música "de uma forma muito mais científica do que "humanizada" " seria tão "desastrante" quanto considerar amor muito mais ciêntifico do que humano (cultural, ou como queira chamar).
Na verdade acho, que em algum ponto a ciência e a cultura se cruzam e se misturam, de forma em que nos resta saber perceber e interpretar essa junção.
A ideia não é ensinar a música como ciência pura imediatamente, mas sim gradualmente.
Todos os aspectos que envolvem desde a recepção de sons às sensações desencadeadas posteriormente são estritamente biológicos.
Obviamente, ensinar de forma tão complexa e objetiva para uma criança é impossível, mas com os devidos cuidados os professores deveriam começar a atribuir gradativamente esses aspectos no aprendizado dos alunos, de forma apenas qualitativa, quebrando os paradigmas, mas sem apagar todo o legado humanizado que a música tem para o homem.
Parece loucura, não é? Mas tem gente que pensa parecido, dê uma olhada na entrevista que o prêmio Nobel de química de 2012, Daniel Shechtman, deu à revista científica "Ciência Hoje" (edição 297), na qual ele propõe até ensinar as leis de Newton para crianças da pré-escola, e tem dado certo em sua cidade natal em Israel.
Portanto, acho sensato ensinar esta linguagem como uma forma de entender a natureza, assim como a si mesmo, que faz parte dela.
Teríamos resultados desastrosos? Eu não sei, mas gostaria de ver. Dando certo ou errado, ensinar ciência nunca é errado ou desastroso.
E quanto ao amor, cabe ao homem ceder às maravilhas e decepções deste sentimento estando ciente de que ele é simplesmente uma dinâmica de endorfinas e ocitocinas que bagunçam o cérebro, não algo humanizado ou "cultural". Outros animais também sentem o "amor", e isso veio da evolução. Populações pequenas de animais tendem a criar vínculos amorosos com seus parceiros afim de preservar o pool gênico.
Não diferente desses, os hominídeos, como produto da evolução de seres fisicamente incapazes de brigar com um felino de grande porte, preservaram esta característica proveniente destas populações timidamente pequenas, apesar de hoje totalizar mais de 7 bilhões de habitantes.
Portanto, olhar para o amor como algo humano ou cultural, para mim, é desastroso, ou posso até dizer que seria como ignorar a natureza e atribuir este sentimento tão bem trabalhado por ela a uma simples espécie, psicologicamente incapaz de matar uma barata e que acha bonito um bebezinho vomitar.
Dê uma olhada neste post: http://aopedavida.blogspot.com.br/2012/08/evolucao-sexo-ciumes-e-monogamia.html
Abraço! E obrigado pelo comentário.
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